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27 de fevereiro de 2014

União Europeia e EUA cúmplices do fascismo Ucraniano



Miguel Urbano Rodrigues

Na Ucrânia está a acontecer o que era inimaginável há poucos anos.O fascismo age como poder real num país que vive uma situação de caos político e social.

Alguns dos principais dirigentes discursam ainda encapuçados, mas nas camisas exibem uma suástica estilizada como símbolo das suas opções ideológicas.

Bandos dessa escória humana assaltam e destroem sedes do partido comunista, exigem a expulsão de russos e judeus, a execução sumaria de adversários políticos, invadem a Rada (Parlamento) e retiram dali e humilham deputados que os criticam.

Esses bandos atuam com disciplina militar, exibindo armamento moderno fornecido por organizações dos países centrais da União Europeia e, segundo alguns observadores, pela CIA. 

O apoio oficioso do Ocidente dito democrático ao fascismo é transparente.

Dirigentes da Alemanha, da França, do Reino Unido não escondem a sua satisfação. A baronesa britânica Catherine Ashton, responsável pelas relações internacionais da UE, correu a Kiev para oferecer apoio à «nova ordem» ucraniana.

Van Rompuy, o presidente da União, também expressou a sua alegria pelo novo rumo da Ucrânia. Fala-se já de uma ajuda económica de 35 mil milhões de dólares da UE, dos EUA e do FMI logo que seja instalado em Kiev um «governo democrático».

Estranha conceção da democracia perfilham os senhores de Bruxelas e Washington.

Viktor Yanukevitch deixou uma herança pesadíssima. Totalmente negativa. Governou como um déspota e será recordado como político corrupto, que acumulou uma grande fortuna em negócios ilícitos. 

Mas serão democratas os parlamentares que controlam hoje a Rada e recebem a bênção da União Europeia? Com poucas excepções, os membros dos partidos que se apresentam agora como paladinos da democracia e defensores da adesão da Ucrânia à União Europeia mantiveram íntimas relações com a oligarquia que, sob a presidência de Yanukovitch e no governo de Júlia Timoshenka, roubaram o povo e arruinaram o país conduzindo-o à beira da bancarrota.

Essa gente carece de legitimidade para se apresentar como interlocutora dos governos europeus que, com hipocrisia, lhe dirigem felicitações.

A situação existente é alias tão caótica que não está claro quem exerce o poder, partilhado pela Rada e pelas organizações fascistas, que põem e dispõem em Kiev e em dezenas de cidades, praticando crimes repugnantes perante a passividade da policia e do exército.

A HIPOCRISIA DO OCIDENTE

A hipocrisia dos dirigentes da União Europeia e dos EUA não surpreende. O discurso sobre a democracia é farisaico de Washington a Londres e Paris. Invocando sempre valores e princípios democráticos, esses dirigentes são responsáveis por agressões a povos indefesos, e, quando isso lhes interessa, por alianças com organizações islamitas fanáticas, armando-as e financiando-as. Isso ocorreu no Iraque, na Líbia, em monarquias feudais do Golfo. 
 
Na América Latina, Washington mantem as melhores relações com algumas ditaduras, promove golpes de Estado para instalar governos fantoches. Entretanto, monta conspirações contra governos democráticos que não se submetem; sempre em nome da democracia de que se dizem guardiões. Os governos progressistas – Venezuela, Bolívia, Equador - são hostilizados como inimigos da democracia, e governos de matizes fascizantes - Colômbia, Honduras – tratados como aliados preferenciais e definidos como democráticos.

LIÇÕES DA HISTÓRIA

A ascensão do fascismo na Europa não é um fenómeno novo. No Tribunal de Nuremberga que julgou os criminosos mais destacados do III Reich afirmou-se repetidamente que o fascismo seria erradicado do mundo. Essa foi uma esperança romântica. Antes mesmo de serem anunciadas as sentenças, já a Administração Truman estava a organizar a ida clandestina para os EUA de conhecidas personalidades nazis, algumas contratadas por universidades tradicionais. 

Simultaneamente, os governos do Reino Unido e dos EUA mantiveram excelentes relações com os fascismos ibéricos. Salazar e Franco foram encarados como aliados. 

Quando a Iugoslávia se desagregou, a Sérvia, qualificada de comunista, foi tratada como estado inimigo, mas Washington, Londres e a Alemanha Federal estabeleceram relações de grande cordialidade com a Croácia cujo governo estava infestado de ex-nazis.

Após o desaparecimento da União Soviética, quando a Rússia se transformou num pais capitalista, o fascismo começou a levantar cabeça na Europa Ocidental.

Em França, Le Pen chegou a disputar a Presidencia da Republica a Chirac numa segunda volta. Na Alemanha, o partido neonazi afirma publicamente o seu saudosismo do Reich hitleriano. Na Áustria, na Holanda, na Itália, nas repúblicas bálticas, partidos de extrema-direita conquistam sectores importantes do eleitorado. No primeiro desses países o líder neonazi participou num governo de coligação.

Em Espanha a extrema-direita exibe uma agressividade crescente. Até na Suécia, na Dinamarca, na Noruega, grupos neonazis voltam às ruas com arrogância.

Em Portugal o fascismo, sem ambiente, está infiltrado nos partidos de direita que desgovernam o país.

REAVIVANDO A MEMÓRIA

A tragédia ucraniana – cumpro um dever recordando essa evidência - não teria sido possível sem a cumplicidade da União Europeia e dos EUA.

Na sua estratégia de cerco à Rússia (incomoda pelo seu poderio nuclear), os governos imperialistas do Ocidente e os seus serviços de inteligência incentivaram as forças extremistas que semearam o caos na Ucrânia ocidental, abrindo a porta à onda de barbárie em curso.

Foram as autodenominadas democracias ocidentais quem financiou e armou os bandos fascistas que sonham com pogroms de comunistas e exigem arrogantemente a adesão da Ucrânia à União Europeia.
Não surgiu magicamente, de um dia para outro, essa escumalha. 

O fascismo tem raízes antigas na Ucrânia, sobretudo nas províncias da Galícia, de maioria católica uniata, que pertenceram ao Imperio Austro-Húngaro e, apos a I Guerra Mundial foram anexadas pela Polónia. Cabe lembrar que 100 000 ucranianos lutaram contra a União Soviética integrados na Wehrmacht e nas SS nazis.

Esses colaboracionistas foram, felizmente, ínfima minoria. A esmagadora maioria do povo resistiu naquela república soviética com bravura e heroísmo à barbárie alemã responsável durante a ocupação pela morte de quatro milhões de ucranianos.

Mas não é por acaso que traidores como Stefan Bandera, aliado das hordas invasoras, tenham sido proclamados heróis nacionais pelos extremistas de direita de Kiev.

Hoje, o júbilo dos governantes da União Europeia pelos acontecimentos da Ucrânia traz à memória a irresponsabilidade de Chamberlain e Daladier quando festejaram o Acordo de Munique, prólogo do holocausto da II Guerra Mundial.

Longe de mim a ideia de estabelecer um paralelo entre épocas e situações tão diferentes.
O horizonte próximo da Ucrânia apresenta-se carregado de incógnitas.

Mas relembrar Munique é tomar consciência de que o fascismo não foi erradicado da Terra, pátria do homem. É urgente dar-lhe combate sem quartel a nível mundial.
 
 Vila Nova de Gaia, 25 de Fevereiro de 2014

3 de fevereiro de 2014

Antom Santos: “O nosso repto é resistir, aproveitar o tempo ao máximo e sair à rua como militantes galegos”



Reproduzimos a continuaçom a entrevista feita para o Organismo Popular Anti-repressivoCeivar do preso independentista galego Antom Santos.

Antom Santos foi separado da sua contorna vital em Dezembro de 2011. Destacado historiador, investigador e docente. As pessoas que o conhecem sabem da sua implicaçom como militante nos movimentos populares mas também da sua grandeza humana. Em junho de 2012 foi condenado a 10 anos de cadeia por “participaçom em organizaçom terrorista” e “falsificaçom documental”, desde entom permanece na prisom de Aranjuez (Madrid) a 700 quilómetros da sua morada.


Durante o juízo do 24 de Junho, a estratégia da Fiscalia e do juiz Guevara provocou o protesto da vossa Defesa, qual foi a tua percepçom?

Antes de fixar-me nos aspectos formais, por escandalosos que foram, cumpriria reparar no que se topa por baixo daquele espectáculo.

Nom é novidade assinalar que, desde há décadas, o Estado tem entre as suas preocupaçons o que chama “independentismo radical” e que nós conhecemos como independentismo revolucionário. Trabalhou-se persistentemente e desde várias frentes para bani-lo do mapa galego ou, quanto menos, por reduzi-lo à mínima expressom.

Houvo e há umha linha de intervençom consistente em fazer da militância pública e legal “umha actividade de risco” atrancada polo acosso policial, as sançons económicas, a espionagem e a ameaça; outra linha mediática baseada em silenciar toda a dinámica político-social arredista e em publicitar a prática das sabotagens abstraendo-as do contexto e causas que as geram.

Finalmente pujo-se em andamento umha estratégia judicial rumada a encarcerar militantes, privando ao movimento de braços, e de passagem, advertindo a toda a base social: “eis os riscos de trabalhar nessa linha política”.

Dado que condenas anteriores nom fôrom abondo para desactivar o Movimento, o Estado ensaia agora umha prisom severa aproveitando-se do molde jurídico com o que se combateu durante décadas várias organizaçons armadas. “A ver se assim vai” pensam.

Devido a que o juízo foi televisado e acadou certa dimensom pública, os jeitos explícitos e anti-democráticos e despóticos do Tribunal surpeenderom muito. Porém dado que este é um poder despótico e treinado no abuso desde os seus chanços inferiores, a militância tampouco deve abraiar-se porque isto se dea nas mais altas instâncias. Estas elites construírom a sua hegemonia com este fundo e talante e reagirám assim ante qualquer foco rebelde.

Qual achas que é o objetivo de manter-te tantos anos preso?

Fundamentalmente exemplarizante. Um aviso a todas as pessoas dispostas a um compromisso profundo com o País, enviando-lhe esta mensagem: “o vosso futuro é a cadeia”.

Ademais como a prisom é umha maquinária de destruiçom e envilecimento humano, o Estado tentará danar-nos irremediavelmente, procurando a nossa derrota pessoal e política. Se saimos como farrapos debilitados, sem rumo, ésse seria um dos maiores triunfos do Poder, que se engrandece ao dobregar aos seus inimigos. O nosso repto é resistir, aproveitar o tempo ao máximo e sair á rua como militantes galegos.

Tem-se dito de vós que sodes “terroristas” sem embargo esta nom é a percepçom real da sociedade galega, que pensas disto?

Nom me atrevo a fazer juízos muito precisos da dinámica da rua porque me faltam dados e cercania. Há nestes momentos novos elementos positivos na reacçom social à repressom? Polo que vou lendo na imprensa soberanista semelha que sim há organizaçons que noutra hora calavam ante a repressom e a vulneraçom de direitos e que hoje superam o tabú do “anti-terrorismo” o que é um passo á frente inesperado.

Também é possível que, ante o piornamento geral das condiçons de vida e a deslegitimaçom social da casta política, da Banca, da Monarquia etc vaia perdendo apoios o entramado repressivo e a legislaçom da excepçom. Seria umha possibilidade lógica mas nom sei se as cousas derivarám nessa direcçom.

Logo, a esperança nom nos deve levar nunca a abandonar o realismo: o sistema penitenciário da Audiência Nacional, com toda a moreia de atropelos que cometem, pervivem por contarem com um amplo consenso social blindado com apoios políticos e mediáticos poderosos. Por isso ás rebeldes e revolucionárias nom nos aguarda um caminho de rosas.

Que comentário che merece que com o auto de Banda Armada qualquer pessoa ou organizaçom solidária poda ser acusada de colaboraçom?

Assistimos à persecuçom e ilegalizaçom de várias organizaçons populares – nom armadas- ao longo da última década. Sem ir mais longe, cidadania galega pola sua mera pertença ao PCE(r) pagarom sérias condenas de prisom. Democracia? Para o Estado há democracia quando e com quem interessa. Fóra desse terreno, impunidade.

Nada nos pode surpreender. No caso galego, e desde há quase umha década (Operaçom Castinheiras), a repressom maneja essa possibilidade de persecuçom legal da política - a ilegal já existe-  como ferramenta psicológica de desmobilizaçom e apaciguamento. Por agora, é o que há. Em negum caso devemos converter umha serena alerta em alarma e especulaçom porque isso é o que os repressores procuram.

Como se tem manifestado a solidaridade ante a repressom?

Só podo falar intra-muros pois cá nom dispomos dumha percepçom cabal do que acontece fóra (essa é umha das intençons da dispersom do régime FIES). Nos primeiros dias de cadeia nunca contei com que recebêssemos tal quantidade de calor política e humana; cartas e postais de gentes muito diversas que ainda hoje nom param de chegar e também um esforço económico e militante descomunal para superar os 700 quilómetros de separaçom com a Terra e fazer possível essas visitas de 40 minutos com um vidro por meio. Umha atitude tam meritória nom precisa de comentários, abonda com faze-la constar.

Durante as visitas com as/os familiares e amigas/os assim como nas cartas sempre transmitides a vossa enteireza e firmeza, qual é o vosso papel namentres vos mantenhem presos?

Na cadeia, ao contrário que na rua, as vacilaçons ou zonas grises nom som possíveis. A enteireza, além dumha opçom moral, é o recurso primeiro para a sobrevivência. A cadeia procura a inactividade do preso, o seu sentimento de rebaixamento e passividade irremediável. Isto leva ao embrutecimento e de ai passa-se aginha à toxicomania, à depressom e às desordens mentais dado que para o militante umha parte do sentido da vida se acha no seu contributo a umha causa, a pervivência dos vencelhos sociais e políticos.

Para estarmos efeitivamente inteiros cumpre mantermos esses contributos em forma de grauzinhos de areia ao nosso Movimento: manualidades, debuxos, ensaios, cartas, criaçom... todo aquelo que cada um desenvolver com a sua vontade. De maneira que a conservaçom da saude e da actividade satisfatória venhem alimentar – claro é que modestamente- a vida do independentismo na Terra.

Como cada pessoa é um mundo, nom há receitários universais que sirvam para roubar-lhe tempo à cadeia e aturar com firmeza umha condena longa. Há duas atitudes, porém, que sempre estám presentes na rotina de todo preso político: a disciplina e a paciência. Com elas podemos encarar adversidades e afrontar umha luita de tam longo percorrido como a que escolhemos.

Como relacionarias as luitas de hoje em dia com a História mais recente da Galiza?

Quiçá tenhamos que ir a tempos mais recuados para entendermo-nos a nós mesmas: fazemos parte dumha empresa colectiva que tem mais de 150 anos de vida, que começou em pequenos gromos activistas-intelectuais para encarnar-se mais adiante num Movimento Popular em favor dos direitos nacionais galegos. É sabido que, polo menos, nos últimos 50 anos, este propósito de afirmaçom nacional já se vencelha explícita e indefectivelmente com umha vontade de transformaçom radical da sociedade num sentido de esquerdas. Somos filhos dessa longa tradiçom.

Também é centenária a cerraçom espanhola, a determinaçom por negar os direitos nacionais e sociais baixo diferenes regimes políticos. Por isso o arredismo, desde as suas origens, negou-se a aceitar as regras de jogo do poder espanhol e manifestou a legitimidade de todas as formas de luita. Na preguerra isto está presente no independentismo de além mar e nas mocidades nacionalistas, mas a fraqueza política nom permite ir mais lá das declaraçons de intençons. É nos últimos quarenta anos quando o Movimento adquire uma certa dimensom popular, quando a prática de ultrapassar a legalidade espanhola motiva umha severa resposta repressiva. Eis a existência de presos e presas políticas

Algo mais para engadir

O meu agradecimento e reconhecimento a todas aquelas pessoas que racham os muros da dispersom com o carteiro ou com tremendas viagens, roubando tempo ao sono e ao lazer.

Agradecimento e reconhecimento que cumpre extender a aqueles que, desde a afinidade ou a divergência política, luitam polos nossos direitos exponhendo-se às moléstias e entraves repressivos que todas conhecemos.